Muito já se falou dos reflexos da crise financeira sobre o setor florestal brasileiro. A questão da vez é o quanto realmente ela já foi atenuada e o que já aprendemos com ela. As previsões apontam o retorno à normalidade para 2010. Ainda são imprecisas e com pouca segurança. No entanto, o que temos hoje como previsão de fim está sendo muito melhor do que tivemos sobre seu início.
Além disso, a crise não afetou a todos do mesmo modo, sendo que a normalidade vai estabelecer-se em tempos bem diferentes, entre empresas e atividades do setor. Assim, faremos algumas considerações sobre a crise, começando por estes pontos, na visão de um prestador de serviço na área de silvicultura. Apesar do conhecido potencial latente da crise, sua rápida expressão surpreendeu o setor.
Em pouco mais de um mês, planos de expansão foram substituídos por medidas abrangentes envolvendo reestruturação de dívidas e cortes orçamentários, não só das expansões como do ritmo operacional até então em andamento. Já que as crises vêm e vão, às vezes de forma avassaladora, quais os Planos de Gerenciamento de Crises – PGC, das indústrias?
Certamente existem, mas percebemos a necessidade, ou oportunidade, de nos conectarmos melhor aos planos dos nossos clientes, diferenciadamente em períodos de normalidade, crescimento ou crise. Isso porque essas fases não atingem só a indústria, ou melhor, atingem de forma mais drástica determinados serviços. No PGC, a meta também deve ser a sustentabilidade, pois não é aceitável que essa filosofia seja válida apenas em momentos de normalidade.
Nesse sentido, para reequilibrar o componente econômico gerador da crise, medidas eficazes foram adotadas. De um modo geral, até proporcionaram balanço positivo do ponto de vista ambiental, o que é natural, pois têm relação direta com redução do uso de recursos naturais e dos impactos ambientais negativos. Na silvicultura, a condução da brotação, ao invés da reforma do plantio, e a minimização do uso de herbicidas são bons exemplos dessas medidas.
Quanto ao social, no entanto, as medidas na crise tiveram impacto negativo imediato, principalmente nos prestadores de serviço, o que é uma forte razão para que estes estejam mais engajados no PGC das indústrias. O setor florestal brasileiro lidou bem com a crise, pensando na manutenção dos níveis de sustentabilidade e de qualidade e agindo especialmente na redução da produção e produtividade.
Embora algumas medidas importantes na silvicultura possam implicar “atrasos” em ganho de qualidade a médio prazo, é algo compreensível perante o benefício na contribuição para atingir o equilíbrio econômico a curto prazo. Paralelamente a essas medidas, no entanto, é necessário também preservar aquilo que já se produziu, não só operacionalmente, mas também nas pesquisas em andamento. Assim, tanto operação como pesquisa devem ser contempladas no PGC.
Por atuar na proteção e monitoramento florestal, nossa empresa sentiu um impacto menor da crise, enquanto observamos outros prestadores de serviço, em algumas regiões, serem obrigados a reduzir a atividade em mais de 50%. Ressalta-se que o monitoramento tem a função de otimizar recursos, com gerenciamento dos resultados.
Uma atividade otimizada, além de contribuir com reservas para a empresa enfrentar uma crise, ela própria sofre menos com cortes, o que foi observado, por exemplo, no controle de formigas em algumas empresas. Além disso, na crise, o monitoramento pode indicar medidas econômicas, incorporá-las à recomendação operacional, simular e gerenciar os resultados.
Apesar da importância dos sistemas de otimização e gerenciamento, observamos empresas florestais adiando a sua implementação, ou mesmo cortando-os, como medida de redução de custos. Isso é sintoma de que ainda falta entendimento do processo e uma estratégia sólida de atuação num PGC. Sabemos que a base florestal em formação hoje é fundamental para o estabelecimento da indústria no futuro, e sua implantação não é o maior investimento.
Também sabemos que a crise é momentânea, e os principais grupos florestais do Brasil não perderam o foco na expansão. Assim, uma estratégia desejável no PGC seria manter os plantios de expansão, com um manejo diferenciado, implicando não só menor produtividade, mas também redução de investimentos e de impactos sociais negativos.
Num segundo momento, com técnicas de monitoramento nas áreas implantadas, poderiam ser estabelecidas ações de recuperação de produtividade, envolvendo, por exemplo, adubação e minimização da competição com ervas daninhas. A participação dos prestadores de serviço no PGC do setor florestal é uma oportunidade de mitigar efeitos em crises, proporcionando vantagens competitivas no futuro.
Artigo escrito originalmente para: